Diário de Amaro De Quester...

Dia 42

É noite ou dia lá na superfície?
Eu me pergunto...
Por tantos anos estive procurando lugares com os quais ninguém se atreveu a sonhar.
Quem iria imaginar que o mais estranho de todos, seria encontrado no subsolo, no fundo, onde o tempo não passa de uma ilusão do homem.

Juntar-se à mais nova expedição gnômica não exigia coragem.
Descemos a um poço sem fundo, um abismo insondável, no entanto, foi um passo muito longo.
Se não fosse pela minha curiosidade e pelos gnomos assistentes, eu poderia ter desistido.

Bem abaixo da superfície, os gnomos descobriram uma caverna colossal embalando uma massa de terra impressionante com um vulcão gigante e estrondoso em seu centro, expelindo lava derretida, cinzas e fumaça.
Eles chamam este lugar Gnomprona, um prato que se serve quente e picante.
Um enorme crânio paira sobre a entrada da câmara interna do vulcão.
Eu vi uma fera como essa antes, olhando para mim através das órbitas ocas e escancaradas.
A forja de exaltação desenterrada pela adventurers' guild com a ajuda dos gnomos.


A abundância de recursos naturais, não me tenta.
Eu não sou movido pela ganância, passei a entender e aprender.
E ainda assim, eu parei olhando para cima, porque não há céu infinito, não há sol para contemplar, não há nuvens ou estrelas para contar.
Tudo o que vejo é aquela estranha névoa que ilumina todo o lugar e esconde o teto áspero da caverna de pedra e estalactites que podem desabar a qualquer minuto.

Gotas de água estão caindo das grandes folhas verdes e samambaias, mas nenhuma delas atinge o solo, todos evaporam durante a queda.
Esta escaldante e abafada umidade, é sufocante e exaustiva.
Mas precisamos me manter caminhando, pois o que encontramos está além de qualquer coisa que eu poderia ter imaginado: Criaturas primordiais, algumas nunca vistas antes, enquanto outras acreditavam  estar extintas.
Progenitores de espécies que conhecemos atualmente.
E rastros de uma civilização antiga!
Talvez até mais velha do que o nosso mais antigo ancestral conhecido.


O cenário verde exuberante ao meu redor é banhado pelo brilho vermelho das piscinas e rios de lava, que se espalham do vulcão como veias de sangue, pulsando lentamente, imitando o batimento cardíaco do Tibia.
Uma visão maravilhosa de se ver, uma beleza traiçoeira e pronta para atacar, para libertar-se e envolver o mundo em chamas.

O ar cinza que respiro é pesado, quente e empoeirado; estou em chamas e encharcado ao mesmo tempo, fedendo a enxofre, como todo o resto aqui.
O cheiro de decadência, queima e permanece.
A selva está transbordando com a vida, mas é a vida à beira da morte.
Cada criatura, cada planta, está engajada em uma luta constante pela sobrevivência, devorando e sendo devorados, um de frente para o outro e de frente para a própria natureza, aqui no fundo, nas entranhas de nossas casas.


Se este lugar perigoso é o paraíso que eles me falaram, eu tenho que repensar minha concepção do inferno.